Cotado para assumir o Ministério das Comunicações, o deputado federal Pedro Lucas Fernandes (União Brasil) é adversário local do agora ex-ocupante da pasta, Juscelino Filho. Ambos são originários do Maranhão, onde Pedro e Juscelino têm uma briga antiga por espaço político. Pedro Lucas é o favorito do União Brasil, partido do qual Juscelino também faz parte, para manter a sigla no controle da pasta.
Filho de político, do ex-deputado Pedro Fernandes Ribeiro, o provável sucessor nunca foi próximo de Juscelino. No passado, sua família era aliada do ex-presidente José Sarney (MDB), embora as alianças tenham se expandido no decorrer dos anos.
Em 2018, os Fernandes aproximaram-se do então governador Flávio Dino, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). A família fechou uma aliança da gestão com o PTB, partido que comandaram em âmbito estadual entre 2003 e 2022. Pedro Lucas assumiu a presidência da Agência Executiva Metropolitana e, mais tarde, elegeu-se deputado federal com uma expressiva votação, ultrapassando os 110 mil votos.
Juscelino, por sua vez, também fazia parte do palanque de Dino, mas era mais próximo de outros políticos, como o senador Weverton Rocha (PDT). O pedetista chegou a romper com Dino nas eleições de 2022 por ter sido preterido pelo hoje governador Carlos Brandão (PSB), que é aliado de Pedro. Dino e Rocha fizeram as pazes quando o senador assumiu a relatoria de sua indicação ao STF.
Em 2022, o PTB, tradicionalmente ligado aos Fernandes, optou por uma aliança com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A família acabou migrando para o PSL, herdando o comando da legenda no estado.
Com a fusão entre o PSL e o Democratas, antes presidido localmente por Juscelino, o União Brasil já surgiu com uma disputa entre os dois. Pedro terminou no posto, e Juscelino foi alçado a ministro.
Essa divisão, no entanto, não foi sem ressentimentos e deixou mágoas na relação. Segundo interlocutores próximos, Pedro e Juscelino têm estilos políticos bem distintos: enquanto Pedro é descrito como expansivo, Juscelino é mais reservado e cauteloso em suas ações.
Mesmo após a fusão, os dois seguiram caminhos políticos separados, com Juscelino próximo ao núcleo do ex-prefeito de Salvador e vice-presidente da sigla, ACM Neto, que também era do Democratas, e Pedro com a confiança do presidente nacional, Antonio Rueda.
Considerado por articuladores como uma espécie de “bom moço” da política maranhense, Pedro Lucas tem poucas polêmicas no currículo. Em 2015, seu pai foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por suspeitas de envolvimento com contratos de emprego fantasma e repasses salariais indevidos, envolvendo o filho enquanto ele era vereador na capital São Luís. A investigação, contudo, não gerou acusações formais.
Em 2021, o nome de Pedro foi mencionado em uma reportagem da revista Crusoé, que o colocou entre os investigados pelo STF no âmbito de um inquérito sigiloso sobre a possível venda de emendas parlamentares. A publicação citava uma emenda de R$ 4 milhões destinada ao município de Arame, reduto eleitoral da família Fernandes e governado à época por seu pai. O STF, no entanto, não confirmou oficialmente a investigação, e nenhuma acusação formal foi feita contra o deputado.
Confiança de Rueda
Dentro do União Brasil, Pedro Lucas tem se consolidado como uma das principais figuras do partido. Ele conquistou a confiança do presidente nacional da legenda, Antonio Rueda, e assumiu o cargo de segundo vice-presidente. Em fevereiro deste ano, também foi eleito líder do partido na Câmara dos Deputados. Nos bastidores, especula-se que ele esteja se preparando para uma candidatura ao Senado nas eleições de 2026, o que pode intensificar ainda mais a competição política no Maranhão.
No estado, o cenário político é incerto. O atual governador, Carlos Brandão, ainda não confirmou se será candidato à reeleição, e os senadores Weverton Rocha e Eliziane Gama (PSD) já sinalizaram a intenção de disputar um novo mandato.
Nesse contexto, a possível indicação de Pedro Lucas Fernandes para o Ministério das Comunicações poderia ser um movimento estratégico, proporcionando visibilidade e influência política em um momento decisivo para suas ambições eleitorais.
O Globo